No meio do furacão Gaga, algo muda de rota e a tempestade ameaça camadas invisíveis. A tormenta passa pelo groovy trazendo modos caóticos de mover. Em seguida, o shake traz pequenas agitações que acontecem em áreas estratégicas até contaminar todo o corpo. Na reta final, em meio da ventania você flutua com a ajuda do float. É uma tempestade que avança desestabilizando velhos hábitos até atingir o olho do tornado. Nesse momento, tudo o que foi devastado foi substituído pelo novo.
Quando você acessa o centro do olho do tornado, tem o alcance experiencial entre ordem-caos. É um lugar-comum. Habitável. Que segue seu fluxo. É rebelde a consciência sensorial que nos provoca. Gaga nasce do instável e do estável, enquanto é sensível à forma que nos arrebata. É como Ohad Naharin (2020) descreve a experiência com sua linguagem:
“Ouvir o meu corpo é algo que me fascina.
A dança me conecta ao campo de sensações.
De uma só vez,
posso me conectar a minha forma pura meu animal interior,
minha paixão, no sentido da existência.
Dançar, não significa se apresentar.
Na realidade, é um ato íntimo que se pode fazer sozinho.
Significa permitir que o caos encontre a sua zona de conforto.
Dançar é como estar no olho do furacão que é um lugar muito tranquilo.
Quando danço, estou nas nuvens.
Uma sensação de felicidade,
não consigo pensar em algo que me dê mais prazer do que dançar.”
(NAHARIN, MOVE, 2020).
Antes de ter acesso a esse comentário, tentava relacionar a intensidade da experiência Gaga no meu corpo com alguma força extraordinária. Sentia o seu transbordar, seu esbarro, a força pulsante que permanecia mesmo após a prática. É uma força que o faz querer se mover ainda mais. Quando chamo essa experiência de a pequena dança, estou na verdade dando outro nome ao tornado Gaga. Toda essa força que nos transforma, mas que necessita de ações externas para manter-se alimentada e vívida.
Naharin a nomeia como “olho do furacão”, mas durante o texto irei chamá-la de “olho do tornado”, porque se trata da forma como a experiencio. A diferença entre o tornado e o furacão encontra-se na intensidade, velocidade e área de abrangência. Podemos imaginar o furacão como os grandes e “lentos”, enquanto os tornados seriam menores e mais rápidos.
No sentido da experiência Gaga, sob a luz da minha perspectiva a relação de Naharin com sua linguagem é algo gigantesco, que já atingiu níveis altíssimos de experiência e profundidade (colossal), pois acredito estar relacionado a sua própria trajetória como pesquisador do corpo e pelo fato dela estar sempre em movimento (lentidão). Em outras palavras, sempre expandindo a sua existência e que se projetam no aumento do seu vocabulário.
Para mim, representa um tornado pelo fato de conseguir acessá-la de forma pontual. Sua experiência é rápida e escorregadia. Como disse, indomável. Não é sempre que consigo atingi-la, mas, quando chego nela, sua sensação perdura por alguns minutos e me faz querer mais. A sua experiência não causa apenas ventanias, mas atinge uma intensidade. Não é algo superficial, mas que atinge altas intensidades. Comparo-as a um tornado de categoria F5, sendo o mais poderoso, violento, capaz de mover grandes edificações.
Gaga, num momento substantivo, transformou um espectro da experiência que é cheio de lados e transformouem uma coisa – um tornado. Gaga é um tornado. Mas, como ocorre esse tornado?
Sua materialização pode ser substituída por feições que constituem sua linguagem. A formação de um tornado gaga se manifesta através da coluna de ar estímulos que, ao ter contato no solo corpo, gira em centrífuga, podendo assumir diversas formas e tamanhos. A partir da incitação com o ar, manifesta-se uma ventania em formato espiral chamada inicialmente de mesociclone camadas e, no seu interior, passa a existir a nuvem funil novas imagens. Nesse sentido, o tornado para mim seria a virada de chave para abertura da pequena dança.

Numa aula de Gaga, o participante recebe muitos estímulos de forma simultânea correlacionados à pesquisa do professor, alunos, ambiente, temperatura, música, respiração ofegante. Todos colaboram na construção de um caos coletivo, mas você precisa estar conectado às informações do seu corpo, aos pequenos e grandes movimentos que estão sendo formados, cada qual dançando no seu tornado, ao mesmo tempo, em unidade.
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